O romance é a autobiografia de Brás Cubas, narrador-personagem (1ª pessoa) que, depois de morto, na condição de "defunto-autor", resolve escrever suas memórias. Por estar morto, Brás Cubas assume uma posição transtemporal, de quem vê a própria existência já de fora dela, "desse outro lado do mistério", de modo onisciente, descontínuo e sem a pressa dos vivos. O fato de Brás Cubas colocar-se como um "defunto-autor", isto é, como alguém que conta a sua vida de além-túmulo, dá-nos a impressão que se trata de um relato caracterizado pela isenção, pela imparciabilidade de quem já não tem necessidade de mentir, pois deixou o mundo e todas as suas ilusões. Essa é uma das famosas armadilhas machadeanas, contra a credulidade do leitor ingênuo e romântico de sua época. Os fatos são narrados à medida que afloram à memória do narrador, que vai tecendo suas digressões, refletindo sobre seus atos, sobre as pessoas, exteriorizando uma visão cínica, irônica e desencantada de si mesmo e dos outros. Espécie de anti-modelo, de personagem-símbolo da ironia machadeana quanto ao ideal burguês de "vencer na vida", a figura de Brás Cubas constitui uma inversão da travessia de heróis burgueses, tematizados pela literatura realista. Machado de Assis ao escolher a situação fantástica de um morto que conta histórias, e que mesmo estando do outro lado da vida procura mais "parecer" do que "ser", isto é, na mente, ilude e distorce os fatos, escondendo suas misérias para que sejam vistas como superioridades, questiona tanto a forma quanto o conteúdo do realismo tradicional. Brás Cubas conta a história de sua vida, a partir de sua morte. Seu ouvinte é o leitor virtual, cinco ou dez leitores, segundo acredita (cap. 34), Virgília, que espera venha a ler o livro (cap. 27), ou um cavalheiro (cap.87), narrador diferente da leitura romântica a quem o narrador das obras anteriores se dirige. Brás Cubas nasceu em 20/10/1805, no Rio de Janeiro, filho de Bento Cubas, da família burguesa que se enriqueceu com o comércio. Tinha uma única irmã, Sabina, casada com Cotrin, com quem teve uma filha, Venância. Seus tios eram João, oficial da infantaria, Ildefonso, padre , e Emerenciana, a maior autoridade de sua infância. Ao falecer, tinha 64 anos (...expirou às duas da tarde de uma Sexta-feira de agosto de 1869), era solteiro e seu enterro teve 11 pessoas. Sua morte foi assistida por 3 mulheres: a irmã Sabina, a sobrinha e Virgília, um de seus amores não concretizados. Nos nove primeiros capítulos, Brás Cubas descreve a sua morte (cap.1), o emplasto (uma idéia fixa que teve, ao final da vida, de inventar um “medicamento anti-hipocondríaco”, isto é, que curasse a mania de doença das pessoas), sua origem (cap.3), a idéia fixa do emplasto (cap.4), sua doença (cap.5), a visita de Virgília (cap.6), o delírio (pesadelo que teve antes de morrer em que lhe aparece Natureza ou Pandora, dona dos bens e dos males humanos, dentre os quais, o maior de todos é a esperança, cap.7), razão contra a sandice (em que a razão expulsa a sandice, cap.8) e transição (cap.9, em que o narrador faz uma reflexão metalingüística e retoma o fio narrativo, cronológico de sua vida, a partir de seu nascimento em 1805). A partir do cap.10, a vida de Brás Cubas é contada de forma sucessiva: nascimento, batizado, infância, juventude. Relata um episódio de 1814 quando, aos nove anos, delata uma cena de beijo entre Dr. Vilaça, “casado e pai” e D. Eusébia, uma “robusta donzela”. É aluno do mestre Ludgero Barata, “calado, obscuro, pontual” e colega de Quincas
Borba, “uma flor”, o menino “mais gracioso, inventivo e travesso”. Em 1822, data da independência política do Brasil, torna-se o prisioneiro amoroso de Marcela, “amiga do dinheiro e de rapazes”, em quem dá o primeiro beijo e cuja paixão dura “quinze meses e onze contos de réis”. Obrigado pelo pai, vai para a Europa, estudar. Em Coimbra, torna-se bacharel, “mediocremente”. Na história de sua vida, são intercalados capítulos como O almocreve (cap.21) e A borboleta preta (cap.31), que são puramente filosóficos. Quando a mãe adoece, Brás Cubas volta ao Brasil, para velá-la, em seus últimos dias.Tendo aprendido na universidade a ornamentação da História e da Jurisprudência, e não sua essência, passa a usá-la para viver na superficial sociedade em que vivia. Seu pai quer que se torne deputado e lhe arranja uma noiva, Virgília, filha do Conselheiro Dutra, 15 ou 16 anos, atraente e voluntariosa. No entanto, Brás Cubas vai visitar Eusébia, a mesma do episódio de 1814, que tinha uma filha de dezessete anos, Eugênia, “coxa de nascença”, uma “Vênus manca”. Brás Cubas a corteja, mas opta por Virgília, “uma jóia, uma flor, uma estrela, uma coisa rara”. Brás Cubas encontra Marcela, envelhecida, rosto marcado pelas “bexigas”, com um pequeno comércio na rua dos Ourives. Ao encontra-se com Virgília, tem uma alucinação e vê a namorada com o rosto marcado como o de Marcela, mas passa. Virgília, no entanto, ambiciosa, casa-se com Lobo Neves, um homem que lhe pareceu mais promissor que Brás Cubas. O pai de Cubas, desgostoso, morreu, inconformado. Brás Cubas, a irmã Sabina e o cunhado, Cotrin, disputaram a herança do pai e em tudo pode-se observar o interesse material determinando o comportamento das pessoas. Brás Cubas torna-se recluso, escrevendo política e fazendo literatura, chegando a alcançar reputação de polemista e poeta. Luis Dutra, um primo poeta de Virgília, avisa Brás Cubas de que Virgília e Lobo Neves tinham regressado de São Paulo. Brás Cubas começa a freqüentar a casa deles e torna-se amante de Virgília. À mesma época, encontra, na rua, o Quincas Borba, seu colega de infância, que vivia como mendigo. Ajuda-o com cinco mil réis e este lhe rouba o relógio, ao despedir-se. Quando algumas pessoas começam a desconfiar do relacionamento de Brás Cubas e Virgília, estes montam uma casinha, no recanto de Gamboa, cuja caseira era D. Plácida, uma antiga agregada da casa de Virgília. Lobo Neves, marido de Virgília aguarda sua nomeação para presidente da província e convida Brás Cubas para ser seu secretário. Este reluta em aceitar. Virgília tem um filho, Nhonhô, do marido, mas Cubas sonha ter um filho com ela. Brás Cubas recebe uma carta de Quincas Borba que lhe devolve o relógio roubado e quer lhe expor sua teoria filosófica do Humanitismo, o princípio das coisas. Lobo Neves recebe denúncias da traição da mulher. E nomeado Presidente da Província e o casal parte, terminando aí o romance proibido entre Virgília e Brás Cubas. Quincas Borba visita Brás Cubas, conta-lhe da fortuna herdada de um tio de Barcelona, mas só se ocupa de sua doutrina filosófica, o humanitismo, uma paródia das teorias científicas no final do século XIX. Brás Cubas fica seduzido pela teoria do Humanitismo, identificando-se com sua explicação materialista da existência humana. Outros motivos que lhe compensaram a perda de Virgília foram a tentativa da irmã de casá-lo com Nha Loló e a ambição política. Aquela no entanto, morre, aos 19 anos de febre amarela. Brás Cubas torna-se deputado, atuando ao lado de Lobo Neves. Em 1855, Brás Cubas encontra Virgília, num baile. Ele a acha magnífica, mas nada mais ocorre entre eles. Ao chegar ao 50 anos, Brás Cubas perde o interesse pela vida, que é o amor. Quincas Borba o convence de que era a idade da ciência e do governo, mas Brás Cubas perde sua cadeira de deputado e, conseqüentemente, a paixão pelo poder. Sua única companhia é Quincas Borba, com quem filosofa sobre a vida e a existência humana através de observações da realidade, como uma luta de cães por um osso. Brás Cubas recebe um bilhete de Virgília que pede-lhe para socorrer D. Plácida, que está a morrer. Ele dá-lhe algum dinheiro e a interna na Misericórdia, onde falece. Resolve publicar um jornal, de oposição ao governo, que contraria Cotrin, seu cunhado. Pouco mais de seis meses depois, o jornal deixa de sair. Lobo Neves morre, na iminência de ser ministro. Brás Cubas vai-lhe ao enterro e vê que Virgília chorava “lágrimas verdadeiras”. Brás Cubas reconcilia-se com o cunhado Cotrin, ingressa na ordem, para dar alguma utilidade a sua vida, segundo ele, foi a fase mais brilhante de sua vida. No hospital da ordem, viu morrer a ex-namorada, a linda Marcela, agora feia, magra, decrépita; também encontrou, num cortiço, outra ex, Eugênia, a filha de D. Eusébia e do Vilaça, tão coxa como antes e mais triste. Quincas Borba, que havia partido para Barcelona, volta, mais louco ainda, morrendo pouco tempo depois. O último capítulo, Das negativas, finaliza a obra com o tom cético e realista que atravessa toda a obra: Brás Cubas não se torna famoso por seu emplasmo, não foi ministro, nem califa, nem se casou. Em compensação, não comprou o pão com o suor do rosto, pois nunca teve de trabalhar. Não morreu como D. Plácida, Marcela, Eugênia e tantos outros, nem se tornou louco como Quincas Borba. Ao morrer, chega ao outro lado, sentindo-se um pouco credor, pois não teve filhos e portanto, não transmitiu “a nenhuma criatura o legado de sua miséria”.
Fonte:http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/m/memorias_postumas_bras_cubas
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O narrador se mostra sempre triste e deprimente. Por quê?
ResponderExcluir________________________
Muito bom os resumos!
Atenção, o perfil deve ser de vcs e não do autor, ele já morreu e, teoricamente, não pode ter blog!!! :)
ResponderExcluirOs problemas psicológicos do narrador (tristeza, depressão...)podem muito bem ser uma desculpa inventada pelo morto para justificar suas ações enquanto estava vivo.
ResponderExcluirProfessora, mudamos o perfil.
ResponderExcluir1.Nos dias de hoje,o que você acha dar voz ao um morto,como na obra de Machado de Assis?
ResponderExcluir2.Por que Brás Cubras e Virgine temia que seu romance fose descoberto pelo marido dela?
3.Por que Brás Cubas perde o enterece pela vida?
2- Porque Virgine era casada com Lobo neves, portanto Bras Cubas e Virgine temiam que fossem pegos, porque eram amantes.
ResponderExcluir3-Para Bras Cubas o enterece da vida era o amor, após ter chegado aos 50 anos e ter visto virgine e achado ela deslumbrante, mas nada entre eles acontesce.
ResponderExcluirBras Cubas tinha uma forte ligação com virgine.
Relembrando: A Webgincana completará a avaliação do primeiro trimestre e seu “peso” é 10. Os alunos que não alcançarem a nota mínima exigida (6,0) poderão responder mais cinco questões sobre o mesmo assunto como forma de recuperação da aprendizagem. O projeto da atividade já está aprovado pela Supervisão da escola e arquivado naquele setor, de modo que aja um embasamento teórico-metodológico para a realização das ações previstas.
ResponderExcluirOs grupos formados em cada turma devem ser comunicados à professora nas aulas dos dias 13 e 14 de abril (respectivamente pelas turmas 301 e 302). Podem ser os mesmos grupos do projeto “Bom de prosa” ou da atividade sobre poesia ou ainda outros grupos formados conforme as identificações pessoais. Seria interessante que fossem os grupos do projeto “Bom de prosa” porque, neste caso, vocês postariam as respostas pelos blogs já construídos, mas nada invalida a formação de outros grupos.
A primeira questão já foi publicada e a resposta deve ser postada, neste blog, até o dia 15. Em seguida, estará disponível a questão seguinte, cuja resposta deverá ser apresentada até o dia 18 de abril, sábado! E, assim, sucessivamente...
Atenção: algumas questões poderão exigir tarefas a serem cumpridas em aula, portanto, preste atenção a cada enunciado e o que, de fato, está “sendo pedido” pela professora.
Uma dica importante: depois do Romantismo, do Realismo, do Naturalismo, do Parnasianismo e do Simbolismo, no início do século XX, inicia-se uma nova fase na literatura brasileira e esta fase será objeto de nossos estudos, logo...as perguntas versarão sobre o referido período.
Não esqueça: a resposta para cada pergunta publicada terá uma data marcada para ser postada, respostas postadas posteriormente serão invalidadas.